Desafios para a implementação da Metodologia BIM

10/04/2024 - atualizado às 13:49 em 11/04/2024

A implementação da metodologia BIM no Brasil representa um avanço significativo no setor de construção civil, atrelada a ganhos de eficiência, precisão e sustentabilidade a partir da conexão de equipes e fluxos de trabalhos integrados. Apesar de seu potencial transformador, a adoção desta metodologia enfrenta diversos desafios no contexto brasileiro.

Building Information Modeling (BIM) é uma metodologia de criação e gerenciamento de dados que traz uma gama de aplicações em diferentes estágios do ciclo de vida de construções e infraestruturas, desde a concepção de projeto até a execução da obra e a manutenção do ativo. Cada fase beneficia-se do modelo BIM, que fornece um repositório centralizado de informações que integra dados multidisciplinares e pode ser acessado e atualizado por todos os envolvidos no projeto. Isso melhora a comunicação, a coordenação e, em última análise, a qualidade do projeto construído, subsidiando a tomada de decisão.

A compatibilização de diferentes disciplinas de projeto antecipa e resolve conflitos entre diferentes sistemas (como estrutural, elétrico e hidráulico) antes da construção. Desta forma, evita retrabalhos, além de permitir extrair quantidades e gerar estimativas precisas de custos a partir de modelos, contribuindo para um melhor controle orçamentário. 

A metodologia introduz novas dinâmicas e requer mudanças significativas nos processos de trabalho, infraestrutura tecnológica e cultura organizacional. A transição para o BIM não é apenas uma mudança de ferramentas ou software, mas uma transformação abrangente que afeta todos os aspectos da prática de engenharia e arquitetura, alterando a forma como os projetos de construção são concebidos, desenvolvidos, entregues e geridos.

Diante deste contexto, os principais desafios identificados para a implementação bem-sucedida do BIM incluem: 

  1. Resistência à mudança: Profissionais acostumados com processos tradicionais, que incorporam desperdícios e retrabalhos, podem ser resistentes à inovação. Eles podem enxergar o BIM como uma ameaça às práticas estabelecidas, exigindo uma mudança de cultura organizacional.
  2. Investimento em capacitação: A implementação do BIM requer treinamentos técnicos e metodológicos para que todos os envolvidos compreendam os processos, conheçam as ferramentas que otimizam o trabalho e tenham uma visam sistêmica e consciente das atribuições das equipes de projeto.
  3. Investimento em tecnologia: A aquisição de softwares e hardwares compatíveis com o uso BIM desejado pode representar um investimento inicial significativo.
  4. Interoperabilidade: A necessidade de integração entre diferentes ferramentas BIM e a compatibilidade entre os formatos de arquivo podem ser desafiadores, mediante definição do uso BIM desejado.
  5. Gestão de dados: O volume de dados gerados e a necessidade de sua correta gestão e armazenamento requerem manuais e protocolos que devem ser hierarquizados e respeitados por todos os participantes envolvidos no projeto.

 

Entender e abordar esses desafios é crucial para empresas e escritórios que buscam não apenas implementar o BIM, mas também maximizar os benefícios que essa metodologia pode trazer para a eficiência, a qualidade e a sustentabilidade dos projetos de construção. 

A transição bem-sucedida para a metodologia BIM pode trazer grandes benefícios. Entretanto, é essencial desenvolver e seguir um plano de implementação bem estruturado, que aborde os principais fatores de sucesso. Dentro desse contexto de preparação para uma transição eficaz para o BIM, as seguintes estratégias são fundamentais:

 

  1. Comprometimento da liderança: O suporte e o comprometimento dos líderes são essenciais para superar a resistência à mudança e garantir os recursos necessários.
  2. Formação contínua: Investir em capacitação contínua dos profissionais, abrangendo não só o uso das ferramentas, mas também a compreensão dos processos BIM e sua aplicação prática.
  3. Pilotos de projeto: Iniciar com projetos-piloto permite que a equipe ganhe experiência prática, identifique desafios específicos e ajuste processos antes de uma implementação em larga escala.
  4. Padronização e normas: Adotar as normas técnicas como a ABNT NBR 15965, a ABNT NBR ISO 12006 e a ABNT NBR ISO 19650, além de outras diretrizes da ABNT/CEE-134, pode indicar o correto uso da metodologia.
  5. Colaboração e comunicação: Promover a colaboração e comunicação efetiva entre as equipes multidisciplinares é crucial na metodologia BIM. Isto assegura que todos os participantes estejam trabalhando com as informações mais atualizadas e precisas, o que é essencial para manter a consistência do projeto em todas as suas fases. 

Implementar a metodologia BIM com sucesso requer uma abordagem holística que considere todas as dimensões da mudança, desde a tecnologia e processos até as pessoas e a cultura organizacional. As estratégias mencionadas oferecem um caminho para as empresas e os escritórios de arquitetura e engenharia navegarem na direção de melhores índices de produtividade e sustentabilidade, considerando a qualificação de mão de obra e a implementação de tecnologia como soluções integradas. 

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O SENAI-SP oferece a pós-graduação em Gestão de Projetos com Ênfase em BIM, em uma parceria com o ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto), uma das mais antigas escolas de Engenharia de Portugal. O curso é online e destinado a alunos de todo o Brasil com formação em Engenharia Civil, Arquitetura, Tecnologia e áreas correlatas.

Artigo escrito por especialistas do SENAI-SPFelipe Guerrero Ferreira da Silva e Alexandre Vieira

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15965-1: Sistema de classificação da informação da construção – Parte 1: Terminologia e estrutura. Rio de Janeiro, 2011.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15965-2: Sistema de classificação da informação da construção – Parte 2: Características dos objetos da construção. Rio de Janeiro, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15965-3: Sistema de classificação da informação da construção – Parte 3: Processos da construção. Rio de Janeiro, 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15965-7: Sistema de classificação da informação da construção – Parte 7: Informação da construção. Rio de Janeiro, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT/CEE-134: Projeto de Sistema de Classificação da Informação da Construção. Rio de Janeiro, 2019.